PELO DIREITO DE ESCOLHER!

 

 

O aborto não pode ser discutido apenas sob a perspectiva de quem é contra. As principais interessadas, as mulheres que veem no aborto uma opção viável (mesmo que radical), precisam ser ouvidas e ter suas opiniões respeitadas.

 

 Mulheres que optam pelo aborto não podem ser chamadas de “assassinas”. Vamos desmistificar essa bobagem, posto que aborto e assassinato são coisas bem diferentes.

 

ABORTO

 

* Procedimento médico.

 

ASSASSINATO

 

* Não é um procedimento médico.

 

ABORTO

 

* Índice de ocorrências independe da legalidade.

 

ASSASSINATO

 

* É desencorajado através da criminalização e punições severas.

 

ABORTO

 

* Ocorre dentro do corpo de um indivíduo a pedido do mesmo indivíduo.

 

ASSASSINATO

 

* Cometido por uma pessoa contra outra pessoa totalmente separada que não está transgredindo o corpo do perpetrador.

 

ABORTO

 

* É o único tratamento para várias condições médicas severas, incluindo gravidez tubária e pré-eclampsia.

 

ASSASSINATO

 

* Nunca é uma necessidade médica para o perpetrador.

 

ABORTO

 

* Interrompe o desenvolvimento de um embrião/feto não senciente, inconsciente e incapaz de sentir dor.

 

ASSASSINATO

 

* Interrompe a vida de uma pessoa senciente, consciente e independente.

 

ABORTO

 

* Se tornou ilegal para proteger os interesses financeiros e religiosos de alguns grupos.

 

ASSASSINATO

 

* É considerado quase universalmente como um ato imoral, se tornou ilegal para proteger a vida das vítimas em potencial.

 

Agora, para ilustrarmos, pensemos da seguinte forma: Digamos, hipoteticamente, que precisemos decidir entre a vida de um homem de 93 anos, que vive em estado vegetativo, sobre uma cama de hospital; e a vida de uma mulher saudável, produtiva e jovem. Por mais que nossas crenças religiosas e sentimentos pessoais sejam a favor da vida, é óbvio que, em uma situação extrema como esta, optaríamos pela vida da mulher, tendo em vista principalmente que o paciente em estado vegetativo não sentiria nenhuma dor e nem experimentaria sofrimento durante o procedimento.

 

Pois bem. Aborto também é uma situação extrema. A mulher que decide pelo aborto irá fazê-lo com o consentimento da Lei ou não, pois ela se sente livre para tomar decisões acerca de seu próprio corpo. É um direito dela. Isto sem falar que, de acordo com um estudo publicado e divulgado pelo jornal inglês The Guardian, o feto humano não sente dor antes de 24 semanas de concepção. As conexões nervosas no cérebro do feto não são formadas antes desse período. O Royal College of Obstetricians e Gynaecologists (Faculdade Real de Obstetras e Ginecologistas), da Inglaterra, também descobriu que a consciência não é formada no período.

 

As descobertas sugerem que abortos conduzidos dentro das 24 semanas não resultam em sofrimento do feto. Isso seria porque há evidências que o ambiente químico no útero induz "uma inconsciência permanente como sono ou sedação".

 

Como podemos ver, aborto não é assassinato. Assassinato é permitir que centenas de mulheres morram todos anos vítimas de hemorragia ou infecção resultantes de procedimentos feitos de maneira grosseira e artesanal.

 

Compreendo que muitas pessoas sejam contrárias ao aborto. Também sou. Se eu fosse mulher, muito provavelmente não optaria pelo aborto caso engravidasse de repente, sem planejamento. Mas eu também gostaria de ter assegurado o direito ao aborto caso minha decisão fosse diferente.

 

Legalizar o aborto não fará que haja um boom de interrupção de gravidezes, as mulheres não abortarão a cada nove meses. Acredite: Abortar não é divertido, não é um passeio no parque.

 

E, ao contrário do que se diz por aí, a maioria dos abortos não é praticada por garotas jovens e solteiras, xingadas exaustivamente de vadias e irresponsáveis por terem vida sexual. Quem mais aborta no Brasil são mulheres católicas, casadas, que trabalham e têm filhos. Elas optam pelo aborto como último instrumento de planejamento familiar. Afinal, os meios contraceptivos podem falhar (e falham). Além disso, muitas delas, por razões de saúde, cessam o uso de anticoncepcional e seus parceiros se recusam a usar preservativo.

 

No Uruguai, inclusive, o número de abortos no país diminuiu após a descriminalização. Tendo em vista que o tema deixou de ser tabu e passou a ser discutido francamente por toda a sociedade, o que possibilitou maiores esclarecimentos e conscientização.

 

Mulheres que optam pelo aborto não são criminosas desumanas e inescrupulosas, como muitos propagam por aí. São meninas, moças e senhoras que precisam enfrentar sozinhas e clandestinamente talvez a mais difícil decisão de suas vidas. Elas precisam de apoio, não de condenação.

 

Uma pessoa pode até ser contra o aborto, mas não pode julgar ou interferir na decisão destas mulheres.

 

 

 

Emerson Braga

 

07/01/2015, quarta-feira

 

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