GALINHADAS

 

Eufóricas, as galinhas empoleiraram-se no cercado que protegia da ação de roedores a pequena horta. Observaram com mórbida e criteriosa atenção Dona Malvina cortar o pescoço de Duduquinha, a fim de tirar-lhe o sangue com o qual prepararia a cabidela do almoço.

 

Não imaginavam que, uma hora dessas, qualquer uma delas também poderia ser imolada. Assistiram à crueza do espetáculo com suspeito alívio. Odiavam Duduquinha e seu ciscar sem pressa, seus ovos polidos e avermelhados.

 

― Como todas as outras que perderam a cabeça, a franguinha emplumada teve o que merecia ― cacarejou, cheia de garrulice, aquela que seria servida no jantar.

 

Emerson Braga

segunda-feira, 07/08/2017

 

 

 

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